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«Congresso é um milagre!»

31 Agosto 2011
Figura de proa do Congresso de Medicina Popular de Vilar de Perdizes, o padre Fontes olha para os 25 anos do evento, a celebrar de 1 a 4 de Setembro, como um «milagre». Envolto em memórias e vivências únicas, o pároco acredita que «o caminho faz-se caminhando». Aponta para o futuro com um sorriso nos lábios até, porque, «haverá sempre alguém a tomar conta» de um barco que não vergou às tempestades.
Como surgiu a ideia de criar este evento?
Nasceu com a medicina científica aqui de Barroso. Havia jovens médicos que não conheciam a tradição local e eu quis dizer-lhes que devemos respeitar a nossa cultura, transmiti-la, conservá-la e não ridicularizá-la. Isso era o que estava a acontecer por parte de alguns que, não conhecendo, pensavam que o saber popular não tinha valor nenhum. Eu para alertar, não só os médicos mas também as pessoas da aldeia e outros meios à volta, que a nossa região tinha valores culturais ligados às plantas, aos chás, às ervas, aos tratamentos, à medicina caseira organizei o congresso. Tentei demonstrar e cativar as pessoas para a preservação dos valores que já referi e assim começou.
 
Que novidades são esperadas para a comemoração destes 25 anos?
Há cerca de 25 temas que vão ser tratados. Alguns deles são novos, outros de oradores tradicionais. Há muito de novo… Miguel Proença, que vem do Porto, expor, em fotografias, curandeiros de Vilar de Perdizes. Luísa Queirós e a Daniela que vão apresentar uma horta biológica do Ecomuseu de Barroso. O tema de reumatismos da medicina popular vai ser explanado por um especialista francês. Temos ainda de Marrocos um perito em mau-olhado e plantas medicinais, entre tantos outros. Vamos apresentar alguns livros, um deles o meu: "O Cancioneiro Barrosão"…há muitas novidades a cada dia.
 
O que vai surpreender os populares nesta edição?
São muitos os temas em discussão. Não faço ideia de qual é o tema que mais agrada à população. Contudo, o povo de Vilar de Perdizes gosta do que é natural, do que é ecológico, que é o caso das plantas medicinais. Acredito que falar dos 25 anos do congresso também é um tema ansiado por quem nos vista. As fotografias dos curandeiros, a exposição fotográfica, que faz uma retrospetiva destes 25 anos, também vai atrair curiosidade, porque as pessoas vão se rever, aparecer na imagem e de certo vão gostar.
 
Como mentor deste projeto, quais são as expetativas?
Eu espero que haja bom tempo...facilita muito. Espero que tudo o que está no programa se realize com interesse para quem estiver presente. Creio que venha muita gente não só aqui do norte mas também de fora.
 
25 anos é muito tempo… qual é a “mezinha” do sucesso?
É a novidade. É um tema que ninguém trata, pouca gente estuda e tem informação completa destes temas. A ciência do oculto e a medicina tradicional às vezes é mais tradição oral que tradição escrita. É natural que tudo isso surpreenda e seja motivo de atracão para muita gente, com alguma novidade para a saúde das pessoas porque o objetivo é melhorar a saúde física e mental da gente que cá vem e que nos procura.
 
O que representa o congresso?
Significa a abertura do mundo rural ao mundo urbano, do mundo analfabeto ao mundo erudito. Representa a descoberta do Barroso por parte das pessoas que ainda não o descobriram e têm essa curiosidade.
 
Sendo a alma do Congresso acredita que ele caminha sem si?
Só não tem pernas quem não quer tê-las. Quem se aguenta 25 anos nas "canetas" já consegue andar por si. Para se realizar sem o padre basta haver alguém que canalize as informações, as oriente, as receba e dê resposta às pessoas. Com a data não é preciso ter preocupações porque ela está marcada todos os anos: de quinta a domingo, na primeira semana de Setembro. Depois é só dar a informação pública que, a partir deste momento, por impossibilidade do padre ser o centralizador como tem sido, a centralidade passa a ser feita pelo Ecomuseu, pela Associação de Património de Vilar de Perdizes ou por uma associação de amigos que se organize…
 
Qual o balanço destes 25 anos?
O balanço é o milagre de ter acontecido e nunca parar. Se não tivesse validade já tinha morrido há mais tempo, nem que eu tivesse feito a aposta que tenho feito. Eu já fiz alguns congressos e morreram à nascida, como é exemplo de um congresso de arquitetura popular, que ao inicio teve êxito e parou… um congresso dos caminhos de Santiago, foi uma vez e parou… Portanto há muitas coisas que foram feitas e pararam por não terem a dinâmica e a mesma garra que este tem.
 
Qual é a principal virtude?
A principal virtude é que se trata de um espaço aberto, sem condicionalismos de qualquer espécie para quem quer expor a sua forma de pensar, trabalhar, curar e saber…
 
E defeito?
O grande defeito é misturarmos o que é menos válido com o que é mais válido. Segue-se a isso uma confusão de quem assiste, que não sabe o que é verdade e o que é mentira. É uma espécie de caldo misturado… quem vem tem que saber distinguir: isto é verdade, isto ou aquilo não.
 
Acredita em Deus?
Sim… isso é o mínimo.
 
E no diabo?
Não, não acredito. O diabo é uma fantasia, uma figura mítica criada pelo medo e para explicar o mal que não sabemos explicar.

 

«Congresso é um milagre!»