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Tourém | Achado arqueológico romano confirmado

16 Dezembro 2021

Na sequência do que noticiámos em maio, está confirmada a existência de um achado arqueológico no lugar de Vegide (Tourém), concelho de Montalegre. A equipa arqueológica validou um espaço onde existiu um acampamento militar romano, além de documentar uma ocupação pré-histórica prévia. Segundo a investigação, o acampamento militar romano, possivelmente de caráter temporário ou semipermanente, foi ocupado entre finais do século I a.C. e inícios do I d.C., sendo mais antigo que o vizinho forte de Aquis Querquennis em Bande, Ourense (Espanha). Recordamos que estamos a falar de um projeto - financiado pela Comissão Europeia através do projeto Finisterrae - liderado pelo arqueólogo da Universidade de Exeter, João Fonte, e que contou com o apoio financeiro e logístico do município de Montalegre, Junta de Freguesia de Tourém, Ecomuseu de Barroso e Concello de Calvos de Randín (Espanha).


O lugar de "Vegide" - inserido no Alto da Raia - foi identificado através do processamento e análise dos dados LiDAR fornecidos pelo Instituto Geográfico Nacional (IGN) através do Plano Nacional de Ortofotografia Aérea (PNOA) que, na última década, permitiu a deteção de inúmeros sítios arqueológicos. Estes dados permitiram a localização de um recinto fortificado de aproximadamente três hectares de tamanho que domina o vale do rio Salas. É possível identificar em campo um talude de terra que se conserva em três das faces do recinto defensivo. A morfologia, a dimensão e a disposição do recinto permitiram avançar que estamos perante um acampamento militar romano, hipótese que foi agora confirmada através da intervenção arqueológica realizada no passado mês de maio. Esta intervenção arqueológica foi realizada em colaboração com a empresa Era-Arqueologia.

PROJETO EM ESCALA

A intervenção neste lugar fez parte do projeto Finisterrae, financiado pela Comissão Europeia através de uma bolsa Marie Skłodowska-Curie (grant agreement 794048). Este ambicioso projeto de investigação arqueológica investiga o impacto da primeira romanização no vasto território situado entre o sul da Galiza e o norte de Portugal. Neste contexto, foram realizadas intervenções arqueológicas em 2020 nos acampamentos militares romanos do Alto da Pedrada (Soajo, Arcos de Valdevez) e Lomba do Mouro (Castro Laboreiro, Melgaço e Verea, Ourense), e em 2021 no Alto da Raia, todos localizados dentro da Reserva da Biosfera Transfronteiriça Gerês-Xurés.

ROMANARMY.EU

Romanarmy.eu é um coletivo científico que investiga a presença militar romana no Noroeste da Península Ibérica, sendo conformado por investigadores de distintas universidades e centros de investigação europeus, diferentes disciplinas e especialistas em várias épocas históricas. As suas publicações, membros e atividades podem ser consultadas em romanarmy.eu.

CONTINUIDADE

Face aos contextos e estruturas documentadas, é intenção dar continuidade a este projeto, prevendo-se a ampliação dos trabalhos de escavação e prospeção. Estes contemplam trabalhos de prospeção magnética e geofísica (magnetómetro e georadar), datações absolutas (OSL e 14C), estudos arqueobotânicos e, sobretudo, a abertura de sondagens em área de forma a se poder documentar em extensão as estruturas e contextos arqueológicos do sítio. Com efeito, as estruturas em “negativo” não facilitam uma musealização in-situ das mesmas, mas face à sua excecionalidade é objetivo usar de recursos digitais como a realidade virtual e aumentada, favorecendo a integração turística nos roteiros turísticos locais e regionais. O fim último, pode passar por um projeto transfronteiriço de estudo e valorização da presença militar romana na Reserva da Biosfera Transfronteiriça Gerês-Xurés (de momento integrando dos concelhos de Montalegre, Calvos de Randín, Bande, Arcos de Valdevez, Melgaço, Verea e Lobeira).


TEM A PALAVRA

David Teixeira | Vice-presidente da Câmara de Montalegre
«É um momento de grande regozijo. Damos os parabéns a quem teve esta visão e onde nos foi apresentado este desafio. A descoberta trás uma certeza a todo este território: desde o século I a.C. que os romanos andam por aqui. Fomos sempre um território apetecível. Tourém é uma freguesia que tem que se sentir orgulhosa da sua história. O concelho de Montalegre tem que olhar para estes vestígios como uma linha de promoção no sentido de trazer estudiosos.»

João Fonte | Arqueólogo
«Em primeiro lugar conseguimos validar a nossa hipótese inicial, isto é, estarmos perante um acampamento militar romano. Conseguimos documentar e caraterizar arqueologicamente a estrutura defensiva do recinto militar romano, composto por um fosso externo em V, escavado no substrato geológico e um talude interno construído com a terra retirada do fosso. Através da prospeção geofísica, conseguimos documentar uma série de estruturas no interior do recinto, nomeadamente estruturas de combustão. A escavação de uma destas estruturas permitiu-nos recolher algumas sementes carbonizadas que depois datamos através de radiocarbono. Com isto, conseguimos perceber que este recinto militar romano foi ocupado entre finais do século I a.C. e inícios do I d.C. Demo-nos conta, durante o nosso trabalho, que houve algo anterior. Observamos algumas estruturas em negativo, alguma cerâmica que, possivelmente, corresponde a um período anterior, talvez do Bronze Final ou da Primeira Idade do Ferro, embora ainda tenhamos que calibrar melhor a cronologia destes contextos. A certeza que temos é que houve uma ocupação pré-histórica à qual se sobrepôs uma romana. Seria importante este projeto ter continuidade. Estamos perante um sítio único com contextos e estruturas excecionais. Seria bom podermos ampliar a área de escavação e prospeção.»

Estrutura de combustão de onde foram recolhidas as sementes carbonizadas datadas por radicarbono
Fosso em V que delimita o recinto defensivo do acampamento militar romano
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